Frequentemente em aulas e palestras sobre estratégia sou questionado sobre se os princípios e modelos da gestão estratégica se aplicam a administração pública.
Sem hesitar respondo que sim. A gestão estratégica enquanto um conjunto de princípios e modelos se aplica a toda e qualquer organização pública ou privada.
Invariavelmente a segunda pergunta que surge é: o que significa gestão estratégica no setor público e se existe alguma diferença entre o setor público e o privado na aplicação da gestão estratégica?
São essas as questões que vamos abordar neste DICAS DE GESTÃO.
Vamos iniciar com um breve resgate do conceito de gestão estratégica.
A gestão estratégica é um processo pelo qual a alta administração determina a direção e o desempenho esperado de longo prazo de uma organização, assegurando que a formulação cuidadosa, a implementação eficaz e a avaliação contínua da estratégia ocorram de forma adequada. É, portanto, o processo de coordenar e integrar as funções de gestão de forma estruturada para alcançar os objetivos organizacionais.
Estratégia e gestão estratégica envolvem escolhas sobre modelo de gestão e sobre a abordagem ampla que uma organização vai adotar para cumprir o seu papel, executar a missão e, ao fazê-lo, alcançar a visão de futuro e, naturalmente, resultados.
Claro! A organização pública assim como a empresa privada precisa alcançar resultados.
O desenvolvimento da gestão estratégica numa organização do setor público pode ser abordada em duas grandes etapas: formulação (o desenvolvimento e aprovação da abordagem, também conhecida como modelo de gestão/planejamento estratégico) e a execução (a implementação das estratégias definidas).
O setor público até o início da década de 80, quando a gestão e o planejamento estratégico foi disseminado de forma mais estruturada nas empresas privadas, tinha ficado de fora. Somente na década de 90 é que a administração pública começa a compreender a importância da gestão estratégica ao perceber que a ideia da gestão estratégica é melhorar o planejamento tradicional de longo prazo, que adota uma visão eminentemente funcional das questões versus uma visão organizacional mais abrangente adotada pelo planejamento estratégico.
A gestão estratégica parte da premissa de que o êxito organizacional depende fundamentalmente da adequação da organização ao seu ambiente, o que não é considerado na abordagem tradicional de planejamento. E isso independe de se tratar de uma organização pública ou empresa privada. O principal objetivo da estratégia na gestão pública é ajudar as organizações do setor público a “criar valor público”, em outras palavras, desenvolver uma sociedade melhor, mais justa e sustentável a partir da prestação de serviços de qualidade.
Nos últimos anos e gestão estratégica se disseminou pelo setor público brasileiro. Iniciativas como o Prêmio da Qualidade do Governo Federal tiveram papel importante no sentido de impulsionar as organizações públicas na busca da gestão estratégica. O PQGF foi instituído em 1998, como uma das ações estratégicas do Programa da Qualidade no Serviço Público. Como decorrência desse esforço inicial atualmente é raro encontrar uma organização pública que não tenha aos menos o esboço de um plano estratégico ou qualquer tipo de estratégia.
Todavia o que se observa é que uma parte significativa das estratégias não estão atingindo seu potencial devido à má execução. O que acontece? O que os dados nos informaram é que, embora todos – desde os estrategistas, gestores, funcionários, partes interessadas da sociedade até o público – tenham trabalhado duro para formular uma estratégia, ainda há um alto risco de que o trabalho não esteja sendo implementado de forma adequada e acaba em uma estante acumulando poeira. Quando a estratégia não é executada corretamente acaba gerando a perda de uma série de oportunidades.
Um estudo realizado pelo Centro Nacional de Desempenho Público da Escola de Relações Públicas e Administração da Rutgers University—Newark para uma rede de profissionais norte-americanos em organizações públicas em 2017 (Obstacles and opportunities for sustaining performance management systems by Marc Holzer and others, 2017) lançou luz sobre as questões de execução. De acordo com a pesquisa, as três principais barreiras para a implementação da gestão estratégica no serviço público são:
1. Ausência de experiência e compreensão dos princípios da gestão estratégica dentro da organização pública.
2. Falta de capacidade, em termos de recursos, disponibilidade de informações e tecnologia.
3. Falta de motivação e comprometimento para usar informações baseadas em resultados.
Para entender por que eles são significativos, deve-se entender o contexto da gestão estratégica e nesse aspecto os setores público e privado são diferentes.
Implantar a gestão estratégica no serviço público passa necessariamente por mitigar essas barreiras por meio, entre outros, de:
– desenvolvimento de ciclos anuais de planejamento estratégico com horizonte superior a 5 anos;
– revisão da estrutura organizacional para que as organizações se tornem mais horizontais portanto, com menos níveis hierárquicos;
– sensibilização e capacitação dos funcionários para a gestão estratégica
– adoção de indicadores de desempenho, KPIs para monitorar o alcance de resultados;
– implantação de mecanismos de premiação para recompensar o desempenho superior;
– mapeamento e simplificação de processos;
– melhoria da comunicação interna;
– incentivo a cultura de inovação e empreendedorismo;
– integração do conhecimento humano com ferramentas de inovação.
Com essas ações relativamente simples implementadas, qualquer organização pública pode avançar na direção da gestão estratégica.











